Cleber Gonçalves Pacheco
Mas o carnaval é mágico. Me lembrarei sempre que cheguei à avenida e comecei a encontrar amigos. Coisa boa cada beijo e cada abraço, cada afeto. Foi inevitável não tirar fotos, a tecnologia de hoje nos permite muitas até que a bateria do dispositivo móvel chegue à sua derradeira hora, mas é bom porque o bloco tem que sair. E ele sai, e o povo bebe, e pede licença se espremendo entre outros corpos.
Carnaval 2015 – Acervo Cacique de Ramos
Muitos beijos entre desconhecidos, algumas frustrações nítidas, muita tensão dos organizadores para que tudo dê certo, muitos sorrisos quando toca “Água na boca”, lá de 1963 até hoje, top! E a rua parece pequena, e a bateria continua incendiada, e o povo pede mais, frenético. É terça-feira de carnaval mas já passou da hora grande, e as cinzas estão chegando, mas, porém, quem liga? O momento é eternizado, e como filme parece ter congelado a imagem, porém com o som ainda ativo. Mas chega o fim do percurso, o povo vibra mas sabe que acabou, não se conforma, firma o pé, pede outra cerva, de preferência a que não está no cardápio da cidade, procura o ônibus e… não tem! Oba!
Diretoria do Cacique de Ramos – Carnaval 2015 – Acervo Cacique de Ramos
Pede outra gelada, e o amigo chama. Os que ficaram papeando começam a cantar, já querendo o próximo, e puxam outro samba, e outros e outros, e chega um cavaco, depois chegou um banjo, aí passou um russo com uma caixa que foi a percussão, palma da mão, nessa altura, a esquina da Graça Aranha com Santa Luzia já estava novamente lotada, e cantou se Ivone Lara, e se cantou Luiz Carlos da Vila, e a rainha cantou partido alto, e chegaram artistas, veio gente de todo lugar.
E já eram três e meia da manhã, apareceu um 350 pro Irajá, mas ninguém ligou. E o samba resistiu, firme, destemido, protegido por Santa Clara, que ficou feliz e os manteve ali, até o final do carnaval.
E esse é o Cacique de Ramos. E esse é o carnaval!
Registro do autor – quadra do Cacique de Ramos (2022)
Cleber Gonçalves Pacheco é caciqueano, professor e integrante do Centro de Memória Domingos Félix do Nascimento do Cacique de Ramos
